Dinis Carvalho, piloto de competição Aboua Aboua. |
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A pedido do nosso presidente cá vai uma descrição do meu voo. Domingo, 30 de Agosto de 2009 A previsão era bastante boa para todo o país, uma boa curva estava desenhada nos gráficos Skew-T. Tectos altos a chegar aos 2600 metros, vendo quase nulo e bom potencial térmico. Estavam as condições reunidas para se fazerem bons voos por todo o lado. Isto era quase tudo verdade para o interior, mas para Caldelas a curva que se via nos diagramas não levariam ninguém para muito alto. De qualquer forma, a gente sabe que há uma diferença entre a previsão teórica baseada em modelos generalistas e as condições locais, além disso a nossa experiência no local dava para admitir que talvez se conseguisse subir. Resolvi tentar a tão querida travessia Caldelas-Larouco. Sabia que se conseguisse subir alguma coisa decente em Caldelas, quanto mais entrasse para o interior mais forte seria a térmica e mais altos seriam os tectos. Vou cedo para a descolagem, sozinho, ninguém estava disponível para me acompanhar e era hora de almoço de um domingo, era compreensível que ninguém estivesse lá. O vento era leste fraco quando lá cheguei o que não me agradou nada porque não era essa a direcção prevista para o vento. Resolvi deitar-me debaixo do palanque à sombra a descansar, na esperança que as coisas melhorassem. Como estava de calções sentia a brisa nas pernas, o que me ia servindo de referência para a direcção do vento, assim nem precisava de abrir os olhos. Esperei uma valente meia hora até que a brisa timidamente começou a rodar para sul. Levantei-me e fui abrir a asa para a vertente sul do monte. Quando estava preparado a brisa começou a entrar muito fraco de oeste e algumas vezes de noroeste. Resolvi mudar-me para a vertente oeste, como estava calor e como já estava todo equipado, mantinha-me a soar como uma besta. Como as brisas eram tão fracas não se esperaria grande actividade térmica no local mas de qualquer forma mantive a esperança. Com alguma dificuldade e paciência lá consegui descolar e o ar era tranquilo e morno. |
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Notei logo que a sustentação, embora fraca, era persistente. Lá fui subindo devagar mudando de núcleo como me parecia mais apropriado. Com paciência lá fui subindo em térmicas muito suaves até que consegui ganhar uns 1000 metros acima da descolagem. Resolvi partir então em direcção a Sta Isabel. Não perdia muito na transição mas Sta Isabel fica num planalto bastante acima da descolagem de Caldelas, o que naturalmente requereria uma térmica pelo caminho para lá chegar em segurança. Os incêndios que estavam activos aqui e ali criaram uma atmosfera densa de pouca visibilidade e naturalmente enfraquecia o aquecimento solar e a força das térmicas. |
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Acabei por chegar com bastante altura acima de Sta Isabel. Lá subi até aos 2000 metros numa térmica muito tranquila. A paisagem era linda. Via as 3 povoações de casas brancas, os campos verdes e aparentemente planos, recortados por bosques. Via a albufeira de Vilarinho das Furnas à esquerda, a imponente Serra Amarela logo atrás, do lado direito a albufeira do Gerês com os barcos de recreio a rasgar a água e a impressionante imensidão de pedra à frente em direcção do Larouco. A imensidão de montes rochosos do Gerês é impressionantemente grande e assusta arriscar por lá, parece que não tem fim. |
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Depois no chão olhei à minha volta e cheguei à conclusão que tinha decidido mal (é fácil de pensar assim depois de ver que as coisas tinham corrido mal). Penso que as teorias sobre as térmicas associadas aos lagos deixam de fazer sentido quando à sua volta existem grandes declives e montanhas de pedra. Imagino que essas elevações acabam por ditar mais as leis de ascendência que os lagos que possam existir. Desta reflexão chego à conclusão (ainda hipotética) que a melhor aposta seria o cume do monte que fica à direita de S. João do Campo. É suficientemente rochoso e grande para garantir ascendência no seu cume. Experimentarei para a próxima. |
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